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ORAÇÃO OU CENA CERIMONIAL
Wilson Coêlho
Conforme nos assinala Francisco Torres Monreal, a obra de Fernando Arrabal pode ser dividida em três etapas. A saber, a primeira etapa seria entendida como o teatro ingênuo ou os dramas sem esperança; a segunda etapa, o Eu pré-pânico e pânico ou os dramas da esperança distante e incerta e, finalmente, a terceira etapa, o Eu e os outros. Esta última etapa ainda seria subdividida em três fases. A primeira, o pânico-revolucionário, onde os dramas se dão como uma esperança imediata. A segunda, o bufo, fase em que os titãs são desmitificados pela irrisão. A terceira, um percurso do desencanto à sedução dos deuses. Por pânico, convém entendermos que se trata de um movimento que Arrabal, em 1962, juntamente com seus amigos Roland Topor (desenhista), Sternberg (escritor) e Alexandro Jodorowsky (encenador apaixonado pelo « happening ») fundou e que – etimologicamente – tem origem no deus grego Pan, a totalidade, onde reuniam o humor com o horror.
Aqui, nos interessa focalizar a primeira etapa, situada entre 1952 e 1957, considerando ser a época em que Fernando Arrabal escreveu Oraison (Oração), quando introduz as técnicas e formas oníricas de sua dramaturgia. Nesta obra, a partir de Fídio e Lilbe (novas denominações para Fando, diminutivo de Fernando e, Lis, pronúncia em francês de Luce, mulher do autor), Fernando Arrabal faz com que os personagens recorram ao caminho que os levaria à bondade, depois de terem assassinado, por pura brincadeira para preencher o tempo, ao filho recém-nascido. Daí, tendo como base alguns trechos da Bíblia, de Gênesis à vida de Cristo, onde Deus também promove a morte do próprio filho, estamos diante de uma ambientação cênica cerimonial, onde Fídio faz um maravilhoso relato como nos contos de fada para emocionar com ternura sua devoção à sua amada Lilbe.
Num certo sentido, um grande parentesco com a crueldade de Antonin Artaud, embora o texto de Fernando Arrabal seja sublinhado pela candidez infantil de seus personagens. Mas o Cristo de Oraison não se resume num mero modelo pelo simples fato de sofrer com sua morte a injustiça dos “maus” e, tampouco, por passar sua vida fazendo milagres para ajudar aos fracos. O chamado Cristo não passa de um modelo utópico que, para fazer jus ao status não passa de um modelo qualquer que se aprecie.
A montagem de Oraison, por Sérgio Torrente, substituindo os atores por bonecos interpretando Fídio e Lilbe, vem contribuir para uma encenação que muito incomoda a compreensão da obra de Fernando Arrabal que desfaz o mito da representação, ou seja, a busca de um novo ator que, mesmo livre da idéia de “encarnar” o personagem, não se perde em alegorias e, tampouco, sucumbe às armadilhas do teatro literário ou da literatura em cena. Wilson Coêlho
« O Grande Cerimonial » de F.Arrabal
Escrito em 1963, O Grande Cerimonial narra a história de Cavanosa, um Casanova as avessas que todas as noites seduz uma mulher e a leva a seu quarto, onde estabelece o cerimonial: um rito tresloucado de amor, que não passa de um projeto, uma fantasia extraída de seus sonhos.
Baseada no teatro da obscuridade e no teatro do pânico, o grupo Teatro Kaus busca revelar na cena o estado de paralisia do seres, o inusitado da vida moderna, que vê sentido na futilidade das coisas, no tempo sem tempo, na violência exacerbada que é comercializada como bijuteria barata pelos manipuladores da massa. A direção é de Reginaldo nascimento.
Sinopse
O Cerimonial acontece quando Cavanosa encontra a Mulher-menina, a pureza profana que com ele irá desbravar o mundo. Uma história de amor às avessas, levada às últimas consequências.
A peça traz para cena o mundo claustrofóbico do autor, o escritor, dramaturgo e cineasta, nascido no Marrocos espanhol em 1932, Fernando Arrabal. E estabelece um jogo permanente entre o belo e o grotesco, a vida e a morte, o sonho e a realidade, a fantasia e os pesadelos, de cinco personagens: Cavanosa, A Mãe, Sil, O Amante e Lis.
Concebida como um ritual proibido, apresenta uma cerimônia pânica que mistura beleza e horror para aprofundar as questões do vazio da alma, do pesadelo que será compartilhado pelo público. É o absurdo que resiste a todas as questões existenciais; é o que fica depois de perguntarmos qual o sentido da existência. A encenação de O Grande Cerimonial, pela ótica da absurdidade, traz à tona esse desejo de ver neste momento de profundas transformações no mundo, o que podemos fazer, quando não há nada a Fazer e ao mesmo tempo tudo.
Ficha Técnica
Direção: Reginaldo Nascimento
Elenco: Alessandro Hernandez, Amália Pereira, Deborah Scavone, Alessandro Hanel
Preparação Corporal: Mônica Granndo
Cenógrafo: Reginaldo Nascimento
Cenotécnico: Fábio Jerônimo
Criação das bonecas: Suzy Gheler
Figurinos: Anelise Drake e Reginaldo Nascimento
Costureiras: Benê e Maria Alice Pereira
Iluminação: Vanderlei Conte
Sonoplastia: Reginaldo Nascimento
Fotos: Bob Sousa / Viviani Leite
Criação Gráfica: Reginaldo Nascimento
Produção: Amália Pereira e Reginaldo Nascimento
VI Festival Nacional de Teatro Cidade de Vitória – O Grande Cerimonial / SP
Teatro Kaus