autre arrabalesque: …le « basket » est moins ennuyeux avec des ballons de rugby et le raisonnement avec des sophismes
autre arrabalesco: … le « basket » es menos aburrido con balones de rugby y el razonamiento con sofismas
________________________________________
MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES –

ANO I – FERNANDO ARRABAL 81 ANOS »
de REJANE REINALDO
FERNANDO ARRABAL NO CEARÁ:IMPRESSÕES,AFETOS E ESTÉTICAS
(RELATÓRIO GERAL E IMPRESSÕES)
FORTALEZA, NOVEMBRO DE 2013

“O teatro de Arrabal é chamado de Absurdo, mas o absurdo do mundo deste dramaturgo espanhol não nasce do desespero do filósofo em busca de penetrar o segredo da existência. É dizer que esse estado de absurdidade se revela na mirada dos personagens que vêem a situação humana com os olhos da simplicidade ou da imediaticidade infantil que não permite uma maior compreensão da realidade do objeto observado. Também como as crianças, seus personagens são por vezes cruéis, porque não compreenderam ou sequer tentaram compreender a existência de uma lei moral. E, assim como as crianças, eles sofrem a crueldade de um mundo como flagelos incompreensíveis… » WILSON COELHO (2010:16) Filosofo,dramaturgo,escritor,tradutor, professor pesquisador
« Estávamos reunidos em um palco, contritos como num cerimonial, porque toda realidade fora suspensa, para se instalar outra dimensão. Espaço de maravilhamento e da arte. Sagrado como os tapetes encantados das bacanais e dos retiros dos monges tibetanos. Ali, não se fingia ou representava, rezava-se num oratório de santos vivos e desbocados, encenando um ritual herético de sacrilégios… » OSWALD BARROSO(UECE) Poeta,dramaturgo,teatrólogo,escritor,professor pesquisador
« A vinda de Fernando Arrabal proporcionou um cerimonial teatral jamais visto na cena cearense. Um encontro memorável onde atores,diretores,pensadores e estudantes de teatro tiveram a oportunidade de discutir a estética do Absurdo,do Pânico e da Crueldade na dramaturgia com Fernando Arrabal, um dos ícones do Teatro do Absurdo e último sobrevivente dos avatares da Modernidade,que segundo o próprio Arrabal,são o Surrealismo, o Pânico e a Patafísica ». LANA SORAYA(CE) Atriz, diretora, dramaturga, escritora, professora de teatro, produtora teatral
« Se o afeto ocorre quando a potência de agir é aumentada ou diminuída, como queria Spinoza, então, foram momentos de afetação o que vivenciamos com Fernando Arrabal, e ele junto a nós, andarilhos, pelas ruas quentes de Fortaleza, pelos teatros, universidades, centros culturais, museus, praças, praias, bairros, pelo Teatro da Boca Rica. Sob o som da cidade, o silêncio falante dos sentimentos e a emoção que o teatro nos presenteia, instalamos em nós, naqueles dias, um tempo próprio, uma forma especial de viver, em torpor, em vigília, como a depurar todo o não carregado de afeto, delicadeza e prazer ». REJANE REINALDO (CE) Atriz/diretora teatral, professora-pesquisadora em culturas e artes, produtora/curadora/gestora cultural, arte-educadora
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
APRESENTAÇÃO
O Projeto Memória Viva da Cultura e das Artes é uma promoção e realização da Associação Educativa Cultural Teatro da Boca Rica com Apoio Cultural do Governo do Estado do Ceará/ Secretaria da Cultura-Fundo Estadual da Cultura. Consiste de um programa de formação em artes e humanidades por meio de homenagens a grandes personalidades de destaque na cena, na cultura e nas artes mundial, nacional e local, entre escritores, filósofos, dramaturgos, cineastas, atores, atrizes.
A homenagem ao artista espanhol Fernando Arrabal1 nesta primeira edição deveu-se à passagem dos seus 80 anos em 2012, considerando-se a sua insofismável contribuição às artes e à cultura mundial.
O registro em fotografia e vídeo das ações engendrou uma preciosa memória das artes e da cultura no Ceará, que por si só justifica o título do projeto. O Projeto Memória Viva da Cultura e das Artes: Ano I – Fernando Arrabal 80 anos abrangeu uma conferência e um seminário com Fernando Arrabal e Wilson Coelho(ES)2; uma Oficina de 30 horas/aula com Wilson Coelho.
Licenciatura em Teatro da Universidade Federal do Ceará – UFC/ICA, aberto a artistas
e profissionais das artes cênicas em geral.
O projeto aconteceu em diversos espaços: Teatro da Boca Rica, Teatro do Centro Dragão do Mar, Teatro Paschoal Carlos Magno(Universitário) da UFC/ICA, Casa Amarela Eusélio Oliveira da UFC/ICA.
1 Fernando Arrabal(ESPANHA)é dramaturgo, escritor, poeta, cineasta, pintor, desenhista, roteirista, jogador e teórico do xadrez. Nasceu aos 11 de agosto de 1932, em Melilla, no continente africano (Marrocos espanhol), filho de Fernando Arrabal Ruiz e Carmen Téran González.
2 Wilson Coelho (ES) é poeta, dramaturgo, tradutor,
Compôs ainda o projeto uma Mostra da
Obra Cinematográfica de Arrabal, na Casa Amarela Eusélio
Oliveira da UFC/ICA; um Intercâmbio Cultural com os alunos
e professores do Curso de
escritor, tradutor,
especialista na obra de Arrabal, palestrante, articulista e encenador,
graduado em Filosofia e Mestre em Estudos Literários pela Universidade
Federal do Espírito Santo, doutorando em Literatura pela Universidade
Federal Fluminense e Auditor Real do Collége de Pataphysique de
Paris.Estudioso e tradutor de Arrabal,sendo seu representante no
Brasil.
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
Idealizada por Lana Soraya3, a vinda de Fernando Arrabal veio compor e fortalecer a Escola Livre Teatro da Boca Rica. Sua realização significou a culminância de uma jornada, entre elaboração, captação, realização, articulação, divulgação, feitura de relatório e prestação de contas, de fevereiro de 2012 a outubro de 2013. A idéia inicial partiu de Lana Soraya, grande admiradora de Fernando Arrabal.
O Projeto Memória Viva da Cultura e das Artes: Ano I – Fernando Arrabal 80 anos promoveu, no Ceará, um encontro inusitado e encantador envolvendo o mestre franco-e
atores, diretores de teatro, pensadores, estudantes, professores, e profissionais afins DO Ceará.
Este projeto compõe o programa de formação em artes e humanidades desenvolvido pela Escola Livre Teatro da Boca Rica, tendo entre seus objetivos a realização de ações formativas e espetaculares, reunidas à área de humanidades, onde processo criativo e processo pedagógico compõem um mesmo ambiente, cujos saberes e fazeres se postam sem dicotomias, hegemonias nem hierarquias.
Toda a programação teve acesso gratuito.
PROGRAMAÇÃO
•    UM SOBREVIVENTE DOS AVATARES DA MODERNIDADE Conferencia com Fernando Arrabal
•    DRAMATURGIA, UMA ESCRITA EM PROCESSO Oficina com Wilson Coelho
•    MOSTRA DE CINEMA FERNANDO ARRABAL
•    INTERCÂMBIO CULTURAL Encontro com Fernando Arrabal, Wilson Coelho, alunos e professores da UFC/ ICA – Curso de Licenciatura em Teatro
3 Lana Soraya (CE) é atriz, diretora, dramaturga, escritora, professora de teatro, produtora teatral.Idealizadora da vinda de Fernando Arrabal ao Ceará, prontamente realizada e promovida pelo projeto MEMORIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS da Associação Educativa Cultural Teatro da Boca Rica.
spanhol
e os
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
RESUMO DO RELATÓRIO DE ATIVIDADES
•    Textos: FERNANDO ARRABAL NO CEARÁ:IMPRESSÕES,AFETOS E ESTÉTICAS de:Fernando Arrabal, Rejane Reinaldo, Lana Soraya, Wilson Coelho, Oswald Barroso, Paulo Ess, Rosemberg Cariry
• Conferencia internacional com Fernando Arrabal – Um sobrevivente dos avatares da modernidade
(FOTOS NO ANEXO) (FILMAGEM NO ANEXO)
• Oficina com o dramaturgo e professor Wilson Coelho – Dramaturgia, uma escrita em processo
(LISTA DOS SELECIONADOS NO ANEXO) (FOTOS NO ANEXO)
•    Mostra de Cinema Fernando Arrabal (FOTOS NO ANEXO)
(FILMAGEM NO ANEXO)
• Intercâmbio Cultural – Encontro com Fernando Arrabal, Wilson Coelho, alunos e professores da UFC/ ICA – Curso Licenciatura em Teatro
(FOTOS NO ANEXO) (FILMAGEM NO ANEXO)
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
RELATÓRIO GERAL E IMPRESSÕES ACERCA DO PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
FERNANDO ARRABAL NO CEARÁ:IMPRESSÕES,AFETOS E ESTÉTICAS
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
TEXTOS
Auto-entrevista de Fernando Arrabal, inspirada nas perguntas que quase sempre lhe fazem e suas respectivas respostas
Por Fernando Arrabal Organizado por Wilson Coelho
Questão: O que resta da criança que aos dez anos de idade ganhou o concurso de superdotados de España?
Fernando Arrabal: Aprendi, então, o que era o amor e também a castidade.
Q.: O que joga um menino superdotado? F.A.: O xadrez. Continuo jogando. E escrevo a crônica
xadrezística de L’Express faz uns 30 anos.
Q.: O senhor teme a morte?
F.A.: Sim. Mas não de uma forma obsessiva. Penso nela como «Spinoza». Tenho esperanças de que a Natureza de mãos dadas com a Ciência possa prolongar a vida. De que possam existir drogas que sejam capazes de alongar a vida em melhores condições do que se temos agora. Confio também na clonagem.
Q.: Reza?
F.A.: Difícilmente, porque o agnosticismo acarreta a dúvida. Mas é claro que eu rezo todos os días à maneira ateia do divino Marquês de Sade.
Q.: E a quem rezaria Fernando Arrabal?
F.A.: Fiz essa mesma pergunta a Borges em Tókio e ele me disse: «Eu rezo porque prometi à minha mãe». Eu tambem o
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
faço, não porque tivesse prometido à minha mãe, senão porque, depois de tudo, confio que possa ser certo o tema de cada uma das mulheres de grande beleza que nos esperam no paraíso mussulmano. Porque não?
Q.: Sabemos verdadeiramente quem é Fernando Arrabal? F.A.: Sou ligeiramente famoso, mas completamente
desconhecido.
Q.: Por que?
F.A.: Porque se tem batido o pé sobre aspectos que não têm nada a ver com minha atividade ou meu pensamento. Se rende culto entre gente de minha geração e gente muito mais jovem a aspectos que não me representam verdadeiramente.
Q.: E tudo isso a seu pesar ou em parte fomentado pelo senhor?
F.A.: Não se poderia fomentar. Skandalo é uma palavra grega que significa armadilha na qual se cai, e eu não posso fazer escândalo nem provocação. Tampouco se pode prever o amor. Nem o êxito nem o fracasso. É como o mistério do pensamento quando supõe uma mudança física. Por exemplo: a ereção. Porque o pensamento pode provocar algo assim? Isso é o que trato de decifrar com os patafísicos ou com a teoria matemática de motivos. André Breton ficava muito irritado com tudo o que fosse ciência ou música.
Q.: Curioso.
F.A.: Ele mesmo dizia: «A única música que me interessa é o silêncio». Quanto à ciência, acrescentava: «Como é que pode, senhor Arrabal, passar toda a noite jogando xadrez com Marcel Duchamp. Vocês estão sempre com sua eterna partida de xadrez e seus eternos problemas de topologia». Eterna partida de xadrez e eterna faceta da ciência. Por isso criamos o pânico.
Q.: Como forma de rebeldia contra o surrealismo, não?
F.A.: Absolutamente. Ademais, Breton não nos expulsou. Eu estaba participando de sua reunião diária durante os três últimos anos. De 1960 a 1963. Não tínhamos carteirinha de surrealista. Era impossível entrar no Café Surrealista na hora em que começava a reunião, às seis em ponto da tarde, se não fosse aceito previamente por Breton.
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO
ARRABAL 80 ANOS F.A.: Breton dizia as palavras sagradas: «Você é bem-
vindo». Então, a partir dai, éramos surrealistas.
Q.: E…?
F.A.: Assim passávamos muito bem. Sobretudo Jodorowsky e eu estávamos muito bem dentro do grupo. Porque éramos gente que vinha de outras latitudes. Aquilo era como estar matando aulas com marcianos. O surrealismo era o mais parecido em dar com o Tubo do Riso na Atlântida.
Q.: Até que se cansaram.
F.A.: Escrevi o primeiro manifesto pânico em Sidney: O homem pânico. Mas, curiosamente, longe de expulsar-nos, Breton publicou minhas obras de teatro, apesar do ódio que mostrava diante da cena; sem falar no que dizia sobre Artaud. Ademais, ele publicou algunas obras, tanto minhas como, por exemplo, de Oscar Paniza ou Raymond Russel. Atualmente, se está representando em París uma de minhas obras A primeira comunhão, editada por ele. Aparece o necrófilo, que mostra Breton tal e como o imaginou o personagem Matta.
Q.: Quantas obras suas estão sendo representadas agora?
F.A.: Uma barbaridade. Mas em geral nos pequenos teatros, por companhias não comerciais, «alternativas». Ainda que tambem me representamos teatros nacionais.
Q.: Escreveu Piquenique no front, sua obra mais representada, quando tinha apenas 14 anos.
F.A.: Essa obra cai bem porque, desgraçadamente, sempre há guerras. Recentemente, vi em Moscou algo curioso. Dizem que os coreanos do Norte não viajam. Pois sim, viajam. E há um grupo de jovens dali que está estudando teatro em Moscou. E tem feito Piquenique em coreano com um diretor de cena estadosunidense e cenógrafo lituano. As coisas mais incríveis acontecem com Piquenique.
Q.: Sinceramente, acredita que voltará algum a viver em seu país? Regressará à Espanha?
F.A.: Estou numa ilha, uma cidade. Por isso minhas cartas têm grande acolhida. São como Cartas persas. O forasteiro é
Q.: Não me diga?!
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
sempre um diabo. Há algo amoroso que se cria em torno dele. Por isso sou, repito, «meio famoso» e ao mesmo tempo quase totalmente desconhecido. Faz agora quase 60 anos de estadia em París. Mas estou de passagem. Com as malas prontas. Ainda que, claro, são umas maletas enormes, com todos os quadros que existem. E com os lençóis cheios de sémen.
Q.: Se sente então um exilado?
F.A.: Des-ter-ra-do. Não se pode dizer que fosse um emigrante econômico, um exilado. Eu o fui por outras razões.
Q.: E não acredita que, assim como aconteceu com Picasso, também ao senhor lhe têm feito seu os franceses?
F.A.: Me ‘insurjo’ contra esta ideia. Jamais conheci um francês que tenha dito que Picasso era francês.
Q.: Fale-me de um ‘camarada’ seu, o escritor Topor.
F.A. Ao meu modo de ver, creio que conheci os melhores. Gente como Beckett, Kundera, Pynchon, Salinger. Mas creio que, de todo o século passado, a pessoa mais inteligente que conheci foi Roland Topor. Mais inteligente que o próprio Beckett, talvez que Kundera, que Mandelbrot (o criador dos fractais) ou que Bénny Lévy, o secretário secreto de Sartre, que morreu de um infarto. De Topor nunca lhe ouvi dizer uma bobagem.
Q.: Foi ele quem disse: «O dia em que Arrabal tomar uma bebida alcoólica será o mais importante do século». Chegou esse dia?
F.A.: Não, ainda há que esperar uns anos para que chegue esse dia. Mas agora bebo vino in veritas.
Q.: Jodorowsky pretende que as admiradoras de Arrabal tenham corpo de prostituta. Por alusões, está de acordo?
F.A.: Não, não, eu não tenho admiradoras. Sou eu o admirador das pessoas que estão ao meu redor, dessas pessoas que me seguem de Los Ângeles ou Moscou. Não me fixei nunca no aspecto que têm, me fixo na mirada, na inteligência, no sexo, nos olhos. Nossas relações são como as do grande Tertuliano com as novas crentes. Uma explosão de inteligência, de ciência e de poesia.
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
Q.: Pois Jodorowsky, sim, se tem fixado.
F.A.: Na realidade, ele e eu nos vemos muito pouco. Quase nunca. Mas quase sempre com muito prazer. É muito falso pretender que ele tenha ciúmes. Creio que Jodorowsky é a pessoa com a que melhor e mais vezes me tenho reconciliado em minha vida. Gosto muito dele.
Q.: Acaba de ser publicado, junto com a reedição de alguns de seus textos, O temor ao Deus Pan, de Viveca Tallgren (Libros del Innombrable, Zaragoza). Reflexões sobre a recepção de suas obras. Começamos a descobri-lo?
F.A.: Pois sim, esta divina bailarina de tangos e erudita catedrática recopilou uma parte dos insultos que lançaram contra mim ao longo de minha vida. São muito curiosos e não creio que nenhum deles seja merecido. Graças a eles pude evitar calamidades como a de entrar em certas instituções casposas ou de ter que visitar em minhas viagens aos centros de falatórios hispanos.
Q.: Quem tem medo de Fernando Arrabal?
F.A.: Eu creio que todos e ninguém. Houve um momento em que o regime de Franco o deu porque eu era um personagem perigoso. Há que se ter em conta que, por exemplo, já com a democracia instalada, proibiram a volta à Espanha de cinco pessoas: a Pasionaria, Carrillo, Líster, o Campesino e eu. E o que faço eu nesta lista? Não tenho nada a ver com eles, nunca me ingressei em um partido político, nem sequer no anarquista. É como os buracos negros. Os buracos negros não podem ser vistos. Há que se analisá-los matematicamente. Pois isso é o que ocorre comigo.
Q.: Em seu caso, todo foi motivado por uma dedicatória pessoal.
F.A.: A história é que um rapaz vem e me pede uma dedicatória blasfema e pânica. Então eu lhe escrevi: «Eu cago em Deus, na Pátria e em todos os demais». Ele fica tão contente com esta dedicatória que a mostra a todo o mundo. Incluido su tio, que é capitão de navio. Então, o capitão de navio escreve a Franco e lhe diz: «Estamos num momento de tolerância e de ‘tio páseme usted el río’, mas além de onde não chegue o peso da justiça irá o peso de meus punhos». No dia seguinte se apresentan em meu hotel quatro
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
policiais com pistola. Imagina. Quatro policiais armados foram prender-me às 12 da noite. Ridículo.
Q.: Como o de sua biografia do autor de Quixote, que levantou mais de uma bolha entre os cervantistas.
F.A.: Mas não sei porquê! Por exemplo, Marlowe pisoteou crucifixos e era homossexual, como Shakespeare, e isso não causou nenhum escândalo na Inglaterra. A homossexualidade de Cervantes já estava contada antes de que o fizesse eu. Não inovo em nada. Só a escondem os verdadeiros cretinos e indocumentados como o simpático dorminhoco Cannavagio. Se aborreceram comigo por pura incultura e preconceitos.
Q.: Talvez pela força do hábito.
F.A.: Wittegenstein analisa estes disparates. Como dizia Hitchcock: «Eu não posso filmar Branca de Neve porque, no final, eles vão procurar o criminoso». Por isso, no meu caso, pensam que Arrabal estás sempre provocando. Mas nunca foi minha intenção.
Q.: E a atualidade que vivemos não lhe atenta para isso?
F.A.: Não. Estou apaixonado por outras coisas. Parece-me que estamos vivendo um renascimento: da filosofia, da astrofísica, das matemáticas, da mecânica quántica. Algo que chega até aos parlamentos. É um momento de muito sangue e de muito terror, mas muito interessante.
Q.: O que Arrabal tem de Quixote?
F.A.: De Alonso Quijada sempre tenho a esperança quixotesca oposta ao pessimismo de meu mestre Schopenhauer. Mas não posso chegar a ser o que eu gostaria: um santo pagão como o foi meu pai. Por isso esse desconcerto quántico que tenho.
Q.: Já encontrou o seu pai?
F.A.: Não, mas continuo procurando-o.
Q.: A última coisa que se sabe dele é que se perdeu na neve depois de fugir da penitenciária de Burgos. Uma imagem tremenda, não?
F.A.: Algo incrível na época. Quando fui ao concurso de superdotados, para viajar de Cidade Rodrigo até Madri, tive que tirar um salvo conduto. Como é possivel que se escape
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
um prisioneiro numa Espanha tão controlada como a dos anos 40 e não se encontre seu cadáver?
Q.: Tem uma filha, Lelia, de 33 anos, descapacitada mental. F.A.: Assim é. Q.: Recorda da última vez que falou com ela?
F.A.: Claro que sim. Faço isso sempre: é muito inteligente. O Governo francês a ajuda. É uma desgraça pensando em seu futuro. Mas ter um ser assim, tão amoroso, é como um animalzinho ou um santo. É curioso porque todo isto é talmúdico. Ela é assim e meu outro filho, Samuel, de 32 anos, é doutor em biologia molecular, exatamente em «vacas… loucas».
Q.: Se considera um bom pai?
F.A.: Não. Eu gostaria dar-lhes de comer meus cotovelos e de beber meus leucócitos. Eles, sobretudo ela, me dão muito. Eles me dão tudo. Ela não me pode dar mais. É o amor incondicional. Penso no cachorro de Schopenhauer e em São Francisco de Assis.
Q.: Mais de meio século casado com Luce, qual o resultado disso?
F.A.: Luce é como un notário de talento deslumbrante, sua palavra está jurada, não sabe mentir. Minha filha tampouco. Até sua aposentadoria, Luce foi professora na Sorbone. Quando fui ao cárcere, disseram que ela me amarrava na cama e outras barbaridades. Os difamadores franquistas até a cabeça se tornaram democratas de toda a vida. Fico feliz em vê-los.
Q.: Com o que sonhou esta noite? F.A.: Sonhei que sonhava.
Q.: Falemos de Houellebecq, o que viu nele? O tem apadrinhado?
F.A.: O apadrinha seu talento. Sua curiosidade científica e sua transcendência filosófica confortam. Assim, como ontem uma mula como o incultíssimo André Malraux pode chegar a ser Ministro de Cultura?
Q.: Defina-me o delito de injúrias.
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
F.A.: Um arrabalesco diria: “Com a injúria se jura na matilha” Não é a injúria o recurso injusto de quem não sabe julgar nem raciocinar?
Q.: Condenado por uma dedicatória durante o franquismo, tão forte foi o que escreveu?
F.A.: Os fortes, então, eram os que condenavam e que logo morreram em sua cama com as botas postas ou os que vivem nos ministérios com as jaquetas trocadas? O cárcere e o processo que padeci por blasfêmia é possivel que seja, como argumentó de J-E. Hallier, um dos atos mais significativos do mundo intelectual do século passado?
Q.: Há alguns anos você batalhou por achar o rastro/pegada/memória de seu pai, o encontrou?
F.A.: É como Beckett, um modelo de vida. Mas – quanto ao meu pai – nunca pude confrontá-lo com a realidade; no entanto, amiúde recebo testemunhas do martírio que sofreu, por exemplo, no Peñón do Hacho de Ceuta.
Q.: Como Samuel Beckett ajudou a você, que é “transcendente sátrapa”?
F.A.: Com suas palavras e com seus silêncios. Por que o Colégio de Patafísica não o alçou a “transcendente sátrapa” como a Duchamp, Max Ernst ou Ionesco?
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
Arrabal: o homem sem raízes
Por Wilson Coêlho
Dramaturgo, escritor, poeta, cineasta, pintor, desenhista,
roteirista, jogador e teórico do xadrez, o espanhol
Fernando Arrabal nasceu aos 11 de agosto de 1932, em
Melilla, no continente africano (Marrocos espanhol), filho
de Fernando Arrabal Ruiz e Carmen Téran González. Em 1936,
por ter se recusado a colaborar com o General Franco no
golpe militar de seu país, seu pai, tenente em Melilla, foi
preso e condenado à morte. Tendo a pena trocada por 30 anos
de prisão, foi transferido para a Cidade Rodrigo
(Salamanca), depois, internado no hospital psiquiátrico de
Burgos. Em 1942, desaparece em circunstâncias misteriosas e
não se ouve mais falar dele. Desde 1940, a família de
Arrabal se instala em Madri.
A tragédia da guerra civil espanhola está fortemente
presente em sua obra literária e, de certa forma, sua
vocação de dramaturgo e escritor se alimenta dos
transtornos sociológicos, do sistema totalitário, o
desaparecimento de seu pai e as relações difíceis no seio
de sua própria família. Aos 10 anos de idade, começa a
escrever e ao participar de um concurso de matemática
recebe o Prêmio nacional de “superdotado”.
Arrabal é um admirador de Goya, Valle-Inclán e Buñuel, e
algumas de suas peças caminham em direção ao barroco: uma
magia, uma festa suntuosa, uma abundância de gestos, de
gritos e de cores, destinados a violentar, a “chocar” o
espectador.
Mas o aspecto barroco na obra de Arrabal, como um “realismo
da confusão”, é uma nova maneira que ele encontra para
liberar seus transtornos na medida em que os transfigura,
impondo-lhes um tipo de ordem e, de alguma forma,
reencontrando o sentido primeiro do seu teatro de magia,
onde são tênues as fronteiras que a separam de sua vida. E,
compreendendo e aceitando a condição de que as estruturas
do diálogo, da ação teatral e do universo têm a mesma
forma, para Arrabal, o teatro não se resume ao palco, mas
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
ele é tudo isso que advém, onde a ação – por ser a imagem
refletida do mundo – não deve ser uma mera demonstração de
alegorias e maneirismos cênicos.
Ao conceber a dramaturgia, Arrabalparte de suas
inquietudes políticas e existenciais, faz da história o
espaço cênico e o principal fundamento da elaboração de sua
criação teatral. Sua dramaturgia não se limita à pretensão
de criar um novo texto, mas elabora um tipo de carpintaria
teatral que, apesar da aparente ingenuidade e da exploração
do nonsense, parece ter um rigor científico do ritual. A
ideia de um “rigor científico do ritual” trata-se de uma
alusão ao fato de que, apesar do aparente inusitado do
transe, há uma lógica interna no ritual, onde se rompe a
fronteira entre atores e espectadores, considerando que de
alguma forma todos participam. Num determinado sentido,
coloca em questão a ideia do público como uma entidade, ao
mesmo tempo em que referenda o fenômeno de algo que se
torna público, no momento em que é “publicado”. Para tanto,
provoca uma espécie de necessidade de romper com o mero
conceito de “representação”.
Levando em conta que sua produção tem sido reconhecida como
Teatro do Absurdo, juntamente com Beckett, Ionesco, Adamov
e tantos outros.
Para ele, o teatro é “sobretudo uma cerimônia, uma festa,
que tem do sacrílego e do sagrado, do erotismo e do
misticismo, da colocação da morte e da exaltação da vida.
Eu sonho um teatro onde humor e poesia, fascinação e pânico
não fariam mais que um. O rito teatral se transformaria
então em ‘operamundi’, como os fantasmas de Dom Quixote, os
pesadelos de Alice no país das maravilhas, o delírio de K.,
até os sonhos humanoides que frequentavam as noites de uma
máquina IBM.”
Para alguns, o teatro de vanguarda no Brasil se inicia com
a montagem de sua obra “O cemitério de automóveis”,
dirigido pelo argentino Victor García, com produção de Ruth
Escobar e tendo como protagonista, no papel de Emanu, o
ator capixaba Stênio Garcia.
Mesmo tendo se reunido com os surrealistas e Breton e,
ainda, ter sido nomeado Sátrapa, uma espécie de Prêmio
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
Nobel do Colégio de Patafísica de Paris, seu lugar de
destaque está no pânico. Em 1962, juntamente com seus
amigos, o desenhista Roland Topor, o escritor Sternberg e o
encenador Alexandro Jodorowsky, apaixonado pelo
“happening”, Arrabal funda o Movimento Pânico – designação
que vem etimologicamente do deus grego Pan, da totalidade,
momento em que abandona um pouco suas parábolas “infantis”
para explorar a veia do fantástico e do ritual. De certa
maneira, o seu reencontro com os surrealistas faz com que
ele desenvolva e leve adiante a crueldade colocando em
prática algumas das ideias preconizadas por Antonin Artaud.
A obra de Arrabal é formada de 14 romances, 800 livros de
poesia, três epístolas, mais de uma centena de peças de
teatro, sete filmes em longa-metragem e três curtas, outra
centena de livros de arte e técnica de xadrez, seis livros
destinados ao fracasso, uma centena de telas pintadas,
muitos milhares de fotografias, um milhar de artigos para a
imprensa internacional, muitas centenas de conferências nas
universidades mais prestigiadas do mundo.
Sua criatividade múltipla está também manifestada nas artes
plásticas, que ele explorou numa abundância de esculturas,
pinturas, colagens, desenhos, e que fazem o objeto de
numerosas exposições e retrospectivas em galerias e museus
de diversos países.
Ele tem recebido um grande número de honrarias e prêmios
internacionais. Sua obra está traduzida na maioria das
línguas e seu teatro entre os mais encenados do mundo.
Enfim, Fernando Arrabal, o Transcendente Sátrapa do Colégio
de Patafísica de Paris que conviveu com Dali, Picasso,
Sartre, Duchamp, Ionèsco, Cioran, Beckett, Dario Fo,
Umberto Eco, Breton, Boris Vian, Man Ray, Andy Warhol,
Tristan Tzara, Genet e tantos outros, é considerado como o
único sobrevivente dos “três avatares da modernidade”, que,
segundo ele mesmo, são o Surrealismo, a Patafísica e o
Pânico.
Tendo nascido no continente africano e vivendo em Paris
desde 1955, como uma espécie de auto exilado, ele se diz
natural da “Desterrolância” e, ainda, insiste em afirmar
que não tem raízes, mas – sim – asas.
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
ARABESCOS PÂNICOS    4 Por Oswald Barroso
Sentíamo-nos ligados ao mundo, no tempo e no espaço, como durante a visita de Sartre e Simone de Beauvoir, em 1960, à Fortaleza. Lembro sua conferência na Universidade Federal do Ceará e a satisfação de meu pai, ao se fazer presente. Sartre foi recebido pelo reitor, em sessão solene, no auditório da Faculdade de Direito, cercado de doutores e do governador. Já Arrabal, ao seu modo, deixou-se perder nos arrabaldes da noite, recebido pelas meninas e meninos do Teatro da Boca Rica, picadeiro marginal instalado na boemia da Praia de Iracema. Entronado num altar de vândalos, com eles, comungou mais uma vez o sem destino dos transviados. Trocou lorotas, ideias pânicas e desconcertantes, na língua dos desavisados, até ser tomado pelo silêncio.
Conversávamos com Arrabal e era como se o centro do mundo estivesse ali. Fora do eixo. Deslocado por magia, atravessara continentes e séculos, para se instalar, como um sonho, entre nós. E de fato, estava. Poucos o perceberam, mesmo a intelectualidade bem posta. Arrabal não chegara via Centro-Sul, viera direto do além e se podia tocá-lo, enquanto negociava pensamentos conosco, um punhado de escolhidos (que lhe escolheram), numa conversa íntima e displicente. Naquela hora, só alguns compreenderam que ali brilhava a história. Ouviu, ouviu, passeou pelos arredores do teatro, entre estátuas, como se deslizasse por nossa história, íntimo dos heróis imortalizados, respondendo aos que perguntavam com silêncios significativos e sorrisos
4 Oswald Barroso é Poeta, jornalista, folclorista e teatrólogo. Doutor e Mestre em Sociologia e Bacharel em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará. Pós-Graduado em Gestão Cultural pela ANFIAC/Paris. Professor do Departamento de Artes da Universidade Estadual do Ceará. Atualmente é membro da Academia Ibérica da Máscara, membro do Conselho Consultivo da Comissão Cearense de Folclore, da Diretoria Executiva da Comissão Nacional de Folclore e da Associação de Dramaturgos do Nordeste, além de coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas Cênicas do Theatro José de Alencar.
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
enigmáticos. O que estaria a ruminar, naquela altura da vida?
Na cena, Arrabal se comportava como criança, podia parecer uma vedete, um exibicionista, mas era tão absurdamente ingênua sua postura, como a de um pivete, ao posar para os fotógrafos. Desde a bata de monje, os óculos de plástico colorido, o gesto de dizer que estava “um brinco”, apertando com os dedos a ponta da orelha, até a alegria em pousar com as fãs.
Estávamos reunidos em um palco, contritos como num cerimonial, porque toda realidade fora suspensa, para se instalar outra dimensão. Espaço de maravilhamento e da arte. Sagrado como os tapetes encantados das bacanais e dos retiros dos monges tibetanos. Ali, não se fingia ou representava, rezava-se num oratório de santos vivos e desbocados, encenando um ritual herético de sacrilégios.
Tal é sua obra, como uma psicografia de médiuns, ditada pelos deuses, aos borbotões, sobre os mistérios dos mundos, tornados mais ocultos ainda. Alimento das almas, povoadas pelos fantasmas de todas as guerras e festas, por entidades errantes e focos de lanternas, a esquadrinhar as dobras da geografia humana, tão intensamente vivida pelos viajantes, como ele, inveterados e invertebrados.
Nele está a crueldade de Artaud, o onirismo de Buñuel, o absurdo de Ionesco, a patafísica dos alquimistas e a totalidade dos inconformistas, pais e mães de todas as linguagens e vanguardas. Está o homem inteiro e facetado, corpo que se manifesta imantado pelos espíritos que o habitam, retalhado e indivisível, partido em todas as direções.
Visitas, como a sua, nos ajudam a abrir os espíritos e expandir a utopia.
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
ARRABAL É UM ABSURDO! Por Paulo Ess5
RESUMO
O objetivo deste artigo é apresentar algumas referências acerca do Teatro do Absurdo, movimento de vanguarda da década de 1950, com destaque para o dramaturgo espanhol, Fernando Arrabal, e sua importância para o teatro brasileiro, e universal, além de sua extensa produção dramatúrgica, que marcou o século XX.Autor representante do Teatro do Absurdo que, inspirado em seus princípios,a partir de paradigmas do teatro clássico ocidental, criou o Teatro Pânico. Mesmo sendo considerado pertencente ao gênero dramático, o dramaturgo mantêm elementos fundamentais dessa forma inovadora. Esse tipo de teatro se justifica especialmente pela sua importância, como movimento de vanguarda. Com linguagem acessível e de fácil compreensão, é possível fazer com que, qualquer pessoa,possa ascender à produção e realização desse teatro e as possibilidades expressivas por ele geradas. Palavras-chave: Fernando Arrabal. Teatro do Absurdo. Fortaleza.Escola Livre Teatro da Boca Rica.
O inusitado surge em nossas vidas e está presente em cada ação, segundo após segundo. Se admitirmos as ações rotineiras, as mais simples possíveis,como sendo uma ocorrência qualquer, assim não estaremos permitindo o momento da surpresa que a vida comporta. Situa-se ai, a condição do novo, o inesperado. A mais simples ação realista, naturalista, de tão natural, líquida e transparente que é, cria veios inexplicáveis e questões simplesmente absurdas de situações da vida humana. Situações tão simples, simplesmente puras, que não se explicam. E nós, na tentativa de compreendermos os mistérios inexplicáveis, buscamos aclarações para tudo, para entender a lógica da morte e o sentido da vida.Assim é vida, mas o teatro não tem o compromisso de reproduzi-la, mas sim, expressa-la em todo o seu sentido. Por isso, em alguns momentos, quando assistimos a um espetáculo, temos a sensação de uma fuga racional e um abandono total do discurso emergente da poesia para uma ruptura das imagens bem definidas. Essa ausência torna-se mais sentida, quando se trata de uma linguagem do teatro contemporâneo.
5Paulo Ess (CE) é ator, diretor, professor pesquisador. Doutor em Teoria, História e Prática do Teatro e Pós-doutor em Estudos Culturais.Correio eletrônico: pauloess@ifce.edu.br
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
Nesse ponto, assinalamos o Teatro do Absurdo como representante de uma linguagem de vanguarda, carregada de aspectos estranhos, elementos delirantes e roteiros nada lineares, onde os acontecimentos ocorrem numa avalanche, demonstrando a dúvida e a solidão que habita em todos os seres humanos. Essa linguagem nos transporta a um universo que, de certo modo, refletem e são referendados pela nossa vida rotineira.Seria vulgar admitir a ausência da lógica, que tentamos definir na linguagem do Absurdo. Mas podemos, sem compromisso com a forma, concentrar seu desenvolvimento em situações inesperadas do homem. A linguagem do Absurdo é uma forma dramática que tem como recurso de criação, os personagens, suas falas e seu enredo de forma lógica. Onde os quadros, as cenas ou situações, não exigem conexões. Os personagens expostos às situações alternadas por imagens sem soluções expõem seus diálogos circulares, cíclicos, e se afastam de clichês que transformam a nossa realidade.
Situamos na cronologia teatral, o ano de 1961, como sendo o período em que o termo Teatro do Absurdo, foi definido pelo teórico húngaro, Martin Esslin. O teórico classificou esse teatro, como uma tendência de vanguarda, surgida depois da Segunda Guerra Mundial, destacando-a como uma das vertentes mais significativas do século XX. Seu objetivo era definir essa tendência teatral, em uma só palavra, que tivesse como cerne da questão, as situações e relações humanas com seus aspectos inesperados, onde seus textos destacam-se por situações ilógicas nos diálogos dos personagens.
Entre os dramaturgos do Absurdo, destacamos o espanhol Fernando Arrabal, que expõe seus personagens adultos, com atributos infantis, em meio à solidão humana e situações banais. Os personagens têm características psicológicas realistas, em um roteiro onde as situações ocorrem de modo circular, recheadas de acontecimentos extraordinários. Foi a partir do Teatro do Absurdo, que Fernando Arrabal em 1962, criou em Paris, o termo Teatro do Pânico, que tem como elemento fundamental, a estética cênica.O teatro arrabalino, caracteriza-se por forte tendência à crítica, com pitadas de terror aliado ao humor, além da identificação da vida artística e pessoal do autor.
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
Independente de qualquer que seja a linguagem dramatúrgica, percebemos que a cultura espanhola deixou influências decisivas para os povos portugueses. São marcas da cultura ibérica que estão presentes em todos os níveis do povo brasileiro, nos fazendo semelhantes e comuns, nos tornando irmãos. Auxiliados pelo Medievalismo e Renascimento a dramaturgia ibérica retratou e unificou nossos aspectos sociais e populares, os hábitos e costumes. Lope de Vega, (1562-1635) exaltou o teatro de qualidade ibérica e influenciou Jorge de Lima, Murilo Mendes, Dias Gomes e João Cabral de Melo Neto. Com estas afinidades, passamos a perguntar qual seria a relação existente entre a cultura brasileira e a espanhola.
A obra de Arrabal chega até nós, em 1968, pelas mãos do argentino Victor Garcia com o texto Cemitério de Automóveis, e em 1971, com a montagem do Teatro Ipanema, conhecemos o texto, por meio do espetáculo O arquiteto e o Imperador da Assíria. Em 1952 Fernando Arrabal escreveu o texto Piquenique no Front, que para nós tem extraordinária importância, por ser a primeira obra do autor, e também por destacar-se como sendo uma das primeiras do gênero Absurdo.Esse texto, inicialmente teve seu título de Os Soldados, e passou por um processo de criação entre os anos de 1952 a 1961. Em 1952, foi o ano que o autor propôs sua primeira versão, e 1961 foi a data em que se publicou sua versão definitiva.
Em 1999, em Fortaleza, Ceará, o Grupo Teatral Raça, sob a direção de Fernando Piancó, montou o texto acima mencionado, cuja história, conta a vida de um soldado chamado Zapo, que se caracteriza pela sua ingenuidade, atributo esse revelado em cena, quando ele tricota, pacientemente, no front, um suéter de lã. A história se passa em um campo de guerra, em um dia de domingo qualquer, quando o senhor e a senhora Tépan, surpreendem seu filho Zapo, para degustarem um requintado lanche. Essa prosaica merenda, em plena guerra, destaca-se por esse momento inusitado. A marca do momento inesperado distingue-se pelo contraste estabelecido entre o ambiente de guerra, com tiros de bombas, fogo cruzado, e a situação iminente da morte. Todo esse contraste banaliza essa situação de guerra.Essa condição surreal enfatiza o conflito das
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
situações geradas entre um simples piquenique, e a conflitante convivência em um campo de batalha.
O texto expõe uma crítica ferrenha à idiotice da guerra e seu caráter bestial, com situações de oposição à guerra, quando o casal Tépan resolve lanchar em pleno campo de batalha, como uma ação inusitada e contraditória que impressiona. A metáfora da guerra e seus conflitos cotidianos tornam-se situações banais do mundo atual. No texto, o clima inquietante e perturbador de guerra misturam-se à ingenuidade e a crueldade dos personagens. Essa crueldade sugerida que faz referências à II Guerra Mundial,também pode representar a crueldade de qualquer época, pois o que importa, é a exposição da banalização dos valores da vida e da morte. No momento em que saboreiam o lanche, a situação é quebrada com a chegada de um soldado inimigo, que a convite da família Tépan, também participa do piquenique. Já em outro momento, enfermeiros surgem à procura de mortos e enfermos e ali, resolvem parar o bombardeio e acabar com a guerra, assumindo o compromisso de conversarem com seus superiores, para cessarem esse conflito.
O tema da guerra e sua banalização tem no íntimo do autor a força dele ter vivido na prática a violência física e a condenação de seu pai à prisão e morte. A ditadura espanhola do governo Franco também perseguiu Arrabal. Com a proibição de seus textos ele foi forçando a deixar seu País em 1955, passando a morar na França. Essa relação direta com a guerra expõe a violência e mostra nitidamente a crítica do autor sobre essas atrocidades. A incompreensão e a comunicação truncada que estão presentes nos seus textos revelam as marcas do Teatro do Absurdo, com influências do Surrealismo e do Teatro da Crueldade.
Também devemos destacar o papel fundamental da Escola Livre Teatro da Boca Rica, que no ano de 2012, realizou de 3 a 7 de dezembro, o Projeto Memória Viva da Cultura e das Artes-ANO I – Fernando Arrabal 80 anos. Esse projeto constou de Mostra de Cinema Arrabal na Casa Amarela, Intercâmbio com a Universidade Federal do Ceara-Curso Licenciatura em Teatro no Teatro Paschoal Carlos Magno, oficina de dramaturgia no Teatro da Boca Rica, ministrada pelo dramaturgo capixaba, Wilson Coelho, e pela primeira
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
vez, no Ceará, a presença marcante de Fernando Arrabal, no ano em que ele completava oitenta anos. Ele proferiu, nesse evento, a conferência intitulada,Um sobrevivente dos avatares da Modernidade, no Centro Dragão do Mar.Nessa sua apresentação ele falou que a cultura está passando por grandes desafios e a causa disso tudo é a mercantilização da arte, pois a cultura não interessa à economia, reservando desse modo, um lugar de destaque para a bolsa de valores, como se fosse um templo religioso.
Autor do mais alto nível,Arrabal não se limita somente a obra dramatúrgica, mas também acumula obras literárias, visuais e cinematográficas. Guarda em seu histórico autoral, mais de onze novelas, vinte obras dramáticas distribuídas em dezenove volumes, e sete longa-metragens.É visível em sua obra, a permanente ruptura com o sistema, opondo-se de maneira radical. Dentre tantas amizades, ele contou com o afeto de outros artistas de sua geração, como foi o caso de Picasso, Ionesco e Salvador Dali.
Concluímos que os textos de Fernando Arrabal são ricos em imagens, donde podemos concluir que esse recurso é estimulado pela força e o impulso da situação apresentada, configurando-se como elemento direto, na ação dramática. Mesmo que o autor tenha vivido o pânico da guerra, a imaginação encontra apoio na concretização das imagens por ele sugeridas. Enquanto as imagens são fortes, a palavra reflete o pensamento abstrato, como signos que conduzem os elementos necessários, desejados pelo autor.Arrabal se apropria da linguagem, assim como o artesão se utiliza do cinzel. Mesmo percebendo que seu teatro contenha elementos de sua vida pessoal, ele transfere seus conflitos e ações, para a problemática geral,transforma-os em funções transversais da coletividade.Enfim, podemos considerar que, a dramaturgia de Arrabal, aqui no Brasil, ainda é pouco analisada, discutida, debatida, e seus textos pouco montados pelos grupos de teatro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARTHES, Roland. A câmara clara. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1984. BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade.Tradução de Mauro Gama, Cláudia Martinelli. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998.
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
BERENGUER, Angel. Fernando Arrabal, Pic – nic, El triciclo, El labirinto. Madrid: Catedra: Letras Hispanicas. 2007. BERTHOLD, Margot. História Mundial do Teatro. Tradução de Maria Paula V. Zurawski, J. Guinsburg, Sérgio Coelho e Clóvis Garcia. São Paulo: Perspectiva, 2003.
BRETON, André. Manifestos do Surrealismo. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2001. ECO, Humberto. A Definição da Arte. Lisboa: Edições 70, 2004.
ESSLIN, Martin. O teatro do absurdo. Tradução de Bárbara Heliodora. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1968. MAGALDI, Sábato. O texto no teatro.3 ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 2001.
_______. “Ionesco e a Morte”. In: O texto no teatro. São Paulo: Editora Perspectiva, 2001. OLIVA, César y MONREAL, F. Torres. Historia básica del arte escénico. Madrid, Cátedra, 1990.
PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro. 2 ed. Tradução de J. Guinsbug e Maria Lúcia Pereira. SãoPaulo: Perspectiva, 2003. SCHIAPPA, Bruno. Fernando Arrabal. O Paradoxo da Teatralidade. Lisboa: Coisas de Ler. Edições, Lda., 2010. VASCONCELLOS, Luiz Paulo. Dicionário de teatro. São Paulo: L&PM, 1987.
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
Fernando Arrabal 80 anos Por Lana Soraya
A vinda de Fernando Arrabal proporcionou um cerimonial teatral jamais visto na cena cearense. Um encontro memorável onde atores,diretores,pensadores e estudantes de teatro tiveram a oportunidade de discutir a estética do Absurdo,do Pânico e da Crueldade na dramaturgia com Fernando Arrabal, um dos ícones do Teatro do Absurdo e último sobrevivente dos avatares da Modernidade,que segundo o próprio Arrabal,são o Surrealismo, o Pânico e a Patafísica.
Foi emocionante,prazeroso e instigante ficar perto desse gênio criativo , aprofundar sua obra delirante e autobiográfica,cuja fonte é a Espanha mística,blasfema, repressora e trágica.
Mergulhamos no universo Pan de Arrabal, nas suas inquietações,medos,confusões,euforias, humor,muito humor contidos nos seus textos e películas.
O formato do projeto MEMORIA VIVA pretendeu englobar a obra de ARRABAL, de forma sintética e representativa, com uma Mostra de sua obra cinematográfica,ainda desconhecida no Brasil, possibilitando o encontro da classe teatral cearense com o Mestre e seu Teatro Pânico.
Assim, inserimos na história do teatro cearense esse intercâmbio transcultural,internacional,cosmopolita.Arrabal esteve então pela primeira vez em Fortaleza, quarenta anos depois da primeira montagem do seu “Piquenique no Front”,no dia 08 de dezembro de 1972(fonte:Ricardo Guilherme), primeira montagem da dramaturgia de Fernando Arrabal em Fortaleza, numa realização do Curso de Arte Dramática da Universidade Federal do Ceará sob a direção de Marcus Miranda, no Teatro Universitário. Assim, quarenta anos após, Fernando Arrabal ocupou o palco do Teatro Universitário, agora ao vivo e não apenas através da sua literatura, e proferiu uma palestra destinada aos alunos e
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
professores da Licenciatura em Teatro da UFC. Momento mágico , histórico,surreal!
Surreal,também,foi sua visita à exposição “Bíblia Sagrada” do pintor Salvador Dali, contemporâneo e amigo de Arrabal. Momento especial, privilegiado,foi ter Arrabal comentando as obras de Dali com informações preciosas, únicas, exclusivas.
Idealizar e realizar o projeto MEMORIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES foi muito gratificante,especialmente por ter possibilitado o encontro inédito da comunidade teatral cearense com Fernando Arrabal, o autor espanhol mais encenado do mundo e criador de um teatro vigoroso, de uma estética irreverente,o Teatro Pânico.
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
FERNANDO ARRABAL NA TERRA DO SOL Por Rosemberg Cariry6
Considerado um dos últimos avatares da modernidade do século XX;iniciado nos grupo surrealista de Bréton, senhor das iconoclastias e das rebeldias;mais do que um revolucionário da arte, um sobrevivente, sempre inquieto e atuante, marcado por inquietações políticas e metafísicas (no seu ateísmo espanhol e anárquico); um sobrevivente das grandes artes que marcaram as revoluções estéticas do século XX e um sobrevivente das hecatombes que trincaram os alicerces da civilização europeia. Marcado a ferro e fogo pela Guerra Civil espanhola e o terror espalhado pelo generalíssimo Franco, que deixou o saldo de milhões de espanhóis mortos e permitiu o bombardeamento de Guernica, imortalizada num quadro de Picasso, como representação da dilaceração e da dor. Onde havia liberdade e pensamento avançado, o generalíssimo Franco esmagou com suas botas, sob as orações dos padres fascistas e o mau odor dos santos de chagas expostas e corações dilacerados. O pai seria condenado e fuzilado pelas tropas franquistas, em 1941. O próprio Fernando Arrabal seria condenado e preso pelo regime de Franco, em 1967, despertando um movimento dos maiores artistas e intelectuais do mundo, exigindo a sua liberdade.Para alguns, a fúria dos infernos desabara sobre a Espanha. Para outros, mais cartesianos ou mais materialistas dialéticos, tudo não passava da crise do capitalismo e das instituições políticas, com o avanço do nazifascismo sobre o mundo, de forma a impregnar de conservadorismo e violência as democracias ocidentais, mesmo depois da Segunda Grande Guerra Mundial, até
6Rosemberg Cariry: Filósofo de formação, cineasta por vocação, Antonio Rosemberg de Moura, de nome artístico Rosemberg Cariry, nasceu em Farias Brito – Ceará, no ano de 1953. É autor de vários livros de contos, poemas e ensaios. Realizou doze filmes de longa-metragem, entre os quais se destacam: O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto(longa-metragem, documentário, 1986), Patativa do Assaré, Ave Poesia(longa-metragem, documentário, 2007) e Corisco e Dadá(longa- metragem, ficção, 1996). Participou ativamente dos movimentos artísticos e literários do Ceará e editou revistas literárias, com destaque para o jornal/revista Nação Cariri.
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
transfigurar-se no neoliberalismo que apodrece o planeta, causa a morte de milhões de pessoas pela fome e pela exploração e cava os abismos crescentes entre as classes sociais e os países ricos e pobres, na contorcida e horrorosa agonia dos impérios, com a crise civilizatória, que se arrasta de todo o século XX até os dias de hoje.
Fernando Arrabal é um cidadão do mundo, um artista em transe, fruto das agonias e das dores da modernidade. Um cidadão do mundo que não pode fugir do ethos espanhol. Um moderno que herda as inquietações criativas da “época de ouro” , quando o Oriente se encontrou com o Ocidente, e, sob o domínio árabe-berbere, durante oitocentos anos, na Península Ibérica, viveram em paz e prosperaram o maometismo, o cristianismo e o judaísmo–traduzindo filósofos gregos, poetas persas e pensamentos e ciências orientais, possibilitando à Europa medieval sair das trevas em que mergulhara sob as ruínas do império romano, até que os reis católicos transformaram novamente tudo em ruínas. Ruínas sobre ruínas. Dessa “época de ouro”, nasceu a chama dos grandes místicos espanhóis, na confluência das três religiões do livro. Fernando Arrabal é um espanhol, insisto, e os espanhóis são místicos, mesmo o mais declarado dos ateus, mesmo aquele que tem na mão uma espada, em vez de uma cruz, para com o touro da vida duelar na arena da morte.
Esse desafio (jogo) constante com a morte, para dar sentido à vida, é próprio dos místicos, mesmo que venha travestido no mundanismo mais profano e da heresia mais abominável. A cobra morde o próprio rabo. Fernando Arrabal lembra-me Santo Antão, no deserto da Tiberíades, debatendo- se com as suas visões demoníacas e orgíacas, numa fúria alucinatória que tenta deter o fluxo da razão e pergunta- se,sem respostas, sobre o sentido do ser no mundo e sobre a inexistência de Deus, num espaço simbólico e social profanado pelo Grande Capital.
Essas inquietações interiores, exteriorizadas em arte e política, expressam-se por meio de dezenas de romances, poemas, peças teatrais e filmes, que vão encontrar a inquietação de toda uma geração que sonhava em mudar o mundo, notadamente a geração os anos 1960,como os movimentos de contracultura hippies e as revoltas de Maio
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
de 1968. Um resultado trágico para tão generosa utopia chegaria com o avanço do capitalismo, ainda mais selvagem em seu desprezo pela humanidade, travestido de neoliberalismo, caminhando sobre montanhas de cadáveres e as cinzas das utopias.
Os avanços dessas forças obscuras jamais calaram Fernando Arrabal, que continuou produzindo, inquietando-se, questionando o status quo, e, nesta sua insubmissão, a tudo marca com o sinal de Caim, com sua fúria iconoclasta de Santo Antão da modernidade, pregando nos desertos da pós- modernidade e em todos os desertos: no deserto de Praga e de Paris, do Saara e do Siará.
Fernando Arrabal esteve no Ceará, em dezembro de 2012, como um “saltimbanco anônimo”, sem que fosse percebida a importância da sua presença na cena artística local.Os jornais noticiaram a sua presença, mas uma espécie de cegueira impediu que ele fosse visto e traduzido no significado mais profundo dos seus gestos e dos seus discursos. Não que tenham faltado espectadores para os seus debates e embates, as suas reflexões e críticas sobre as artes e os desconcertos do mundo. Não, não faltaram pessoas ávidas pela discussão e pelo debate. No entanto, éramos poucos, escutando com atenção, fazendo anotações, perguntando, questionando, aprendendo e desaprendendo. Uns poucos de nós já havíamos vistos seus filmes, lidos seus romances, assistido a montagens de suas peças e se inquietado com os seus pensamentos.
A exemplo do que acontece com os grandes artistas, ninguém lê ou vê Fernando Arrabal impunemente sem que algo se inquiete dentro da alma. Estávamos inquietos, diante das suas completas e, d’outras vezes, frases cortadas antes que se completassem os sentidos… Dos seus silêncios, dos seus sorrisos enigmáticos… Não havia e nem nós queríamos estabelecer fronteiras entre o que era real e representação. Aqui não falo na capacidade que tem ele de levantar polêmicas, nem nas contradições dos seus discursos, mas falo no “fogo” e no “risco” de que é feita toda arte e na coragem da ousadia. Torquato Neto, o grande poeta tropicalista, já dizia: “Um poeta não se faz com versos, é o risco”. Fernando Arrabal sabe disto, que a arte
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
é caminhar sobre o fio da na navalha à beira dos precipícios.
Fernando Arrabal chega ao Ceará com uma pesada carga de heranças das vanguardas europeias da primeira metade do século XX e também com a quebra destas mesmas heranças, cheias de construções e de iconoclastias, falando da vida,mas trazendo também os seus mortos – os seus santos, os seus demônios e os seus monstros sagrados; todos mortos – expostos como os santos barrocos espanhóis em procissão, tristes e mórbidos,cheios de sangue e de chagas abertas, como se fossem espelhos do mundo, entre cemitérios de automóveis, Babilônia tardia, árvores de Guernica, cavalos loucos, jardins das delícias, labirintos e bestialidades eróticas. Um mundo onírico e transbarroco, dizendo que ainda resta vida na poesia e a arte se faz grande pela insubmissão do artista que supera a si mesmo e avança sobre o seu tempo.
No Ceará, também temos os nossos santos e os nossos demônios insepultos, mas sem as sombras das criptas românicas, góticas ou barrocas. O nosso barroco popular é uma reinvenção ensolarada do barroco ibérico, austero. Os nossos mortos, deixamo-los sobre a terra, para que sejam lambidos pelas línguas afiadas do sol, até que os seus ossos polidos reluzam ao dia e, à noite, transformem-se em pura prata sobre as carícias do luar.
Fernando Arrabal arrasta heranças e, em sua fúria iconoclasta, destrói mundos velhos e novos, destruindo-se e construindo-se a si mesmo. Nós aqui, no Ceará – Terra do Sol, não temos ou não gostamos de passado (os ossos dos nossos mortos estão expostos ao sol e estão polidos), arrefecemos a nossa fúria e esquecidos andamos de que o mundo pode ser novo, mesmo que já nasça como ruínas.
Admirável Fernando Arrabal que ainda causa tanta inquietação no Mundo Novo e mexe com a nossa indiferença. Quem sabe este avatar errante, vindo de um passado próximo, das ruínas de uma Europa devastada, não nos incendeia o tempo presente. Afinal, nós precisamos encarar as nossas próprias ruínas, para que sobre elas–com as pedras e areias do deserto, com ossos polidos dos nossos antepassados e com os vivos de hoje –mistura de mundos em que nos
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
transformamos (um povo como mistura de todas as misturas, herdeiro de símbolos e de imaginários planetários reinventados sob o signo da brasilidade) –possamos finalmente abrir as portas do futuro e construirmos uma civilização nova, mestiça, tropical, igualitária e livre, como bem profetizava outro avatar–Darcy Ribeiro. Até que novas ruínas se instalem.
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
ARRABAL, AFETOS E PAISAGENS Por Rejane Reinaldo7
Se o afeto ocorre quando a potência de agir é aumentada ou diminuída, como queria Spinoza, então, foram momentos de afetação o que vivenciamos com Fernando Arrabal, e ele junto a nós, andarilhos, pelas ruas quentes de Fortaleza, pelos teatros, universidades, centros culturais, museus, praças, praias, bairros, pelo Teatro da Boca Rica. Sob o som da cidade, o silêncio falante dos sentimentos e a emoção que o teatro nos presenteia, instalamos em nós, naqueles dias, um tempo próprio, uma forma especial de viver, em torpor, em vigília, como a depurar todo o não carregado de afeto, delicadeza e prazer.
Um homem franzino, de uma inteligência estupenda. Um teórico dos mais tenazes, de voz doce e delicada, quase inaudível, a emitir gentilezas sempre, e sempre. E a sussurrar muitas incertezas, incontáveis blasfêmias, ao caminhar por Fortaleza. Por vezes assemelhava-se a uma criança, um menino travesso, um moleque indomável, descortinando segredos de um lugar imaginário.
7 Rejane Reinaldo é mãe de 1 filho, avó de 2 netos, com uma família de 10 (3 irmãos e 7 irmãs) e 5 gatos. Atriz/diretora teatral, professora- pesquisadora em culturas e artes, produtora/curadora/gestora cultural, arte-educadora ,Doutoranda em Teatro(UFBA); Mestre em Sociologia(UFC); Bacharel em Serviço Social (UECE); Diretora Artística do Theatro José de Alencar(1996-2003); Diretora fundadora do Instituto Dragão do Mar de Arte e Cultura – IACC (1998); Secretária de Cultura e Turismo de Sobral (2007 a 2008);Coordenadora de Ação Cultural da Secretaria da Cultura do Ceará (2009 a 2010); Vice Presidente do DICULTURA – Conselho dos Dirigentes Culturais do Ceará (2007 a 2008);Diretora fundadora e Diretora de Eventos do Conselho Cearense dos Direitos da Mulher (1986);Diretora do Centro Popular da Mulher;Diretora fundadora da Federação de Favelas de Fortaleza.
Tendo nascido no continente africano e vivendo em Paris desde 1955,
como uma espécie de auto exilado, ele se diz natural da
“Desterrolância” e, ainda, insiste em afirmar que não tem raízes, mas
– sim – asas.
Wilson Coelho
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
Durante uma semana estivemos irmanados dia a dia, noite a noite, Fortaleza afora, Fortaleza adentro, pelas ruas, becos e umbrais, a sentir-viver-apreciar a cidade, agora, acariciada pelo olhar amoroso de Fernando Arrabal. E assim nos postamos, a engendrar carícias ao vento com falas inusitadas e deleites impublicáveis… sobre o teatro,a vida,o ontem, o amanhã, o hoje…Fernando Arrabal se diz não possuidor de raízes, mas sim, de asas. Nada o definiria tão fielmente… Talvez, e somente, um LABIRINTO,talvez…
Arrabal desejou visitar um CEMITÉRIO DE AUTOMÓVEIS, uma feira de carros velhos, usados,de coisas, de cacarecos, restos que a vida produz e joga fora, descarta, mas que podem ser reutilizáveis, podem servir a alguém, a ele, Arrabal, inclusive (comprou um cadeado enorme e uma ratoeira). Pensando assim aportou na Lagoa de Parangaba, numa manhã de domingo, na Feira. Caminhou por entre pessoas, objetos, comidas, sons estridentes, sol escaldante… Às doze horas, sol a pino, já havia percorrido tudo, ágil, quase serelepe – aos 80 anos.Feito UM CAVALO LOUCO permaneceu ali, impetuoso e livre.
No centro da cidade, na Praça da estação,deliciou-se com cajuína e castanha no « Centro Artesanal da Emcetur ». Um verdadeiro PIQUENIQUE NO FRONT. Porque os transeuntes, os caminhantes da rua, seus miseráveis, animais abandonados, ligeiros, corriam de um lado ao outro, na luta pela vida, na guerra que o cotidiano impõe com seus horários, suas normas, suas ordens, seus deveres a cumprir, militarmente. Tudo minuciosamente capturado pelo olhar arguto de Arrabal – às vezes em espanto.
Em seu traje preto, manga comprida, três óculos coloridos por sobre a testa em riste, quase trotando, caminhamos pelas ruas, chegando ao « Museu da Emcetur ». Lá, Arrabal aproximou-se de Antonio Conselheiro, depois de Padre Cícero, também aconchegou-se numa jangada. Ainda, levemente, encostou-se em São Francisco, pausado, leve, fazendo confidências, baixinho, ao Santo querido de Canindé.
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
Descendo a escada encontrou uma troupe, JOVENS BÁRBAROS DE HOJE: palhaços, artistas, cantores, um sanfoneiro e um zabumbeiro. Entrou na roda e assistiu à intervenção dos « Mateus » urbanos.Ao final, abraçou-se a um deles, fez fotos, respondeu perguntas curiosas. Satisfeitos, os dois riram e se despediram, se afastando por entre as pessoas e os carros. Arrabal com um olhar de saudade – palavra que nem mesmo existe nas suas plagas, mas tão somente, no seu coração.
No Centro Dragão do Mar Arrabal ouviu atento a história de Marighella, em exposição e vídeo. Pediu uma foto ao lado da imagem do guerrilheiro, punho levantado. Apreciou o painel de Aldemir Martins e, mais uma vez, posou, braços abertos, abraçando os novos amigos cearenses do Teatro da Boca Rica, guardou em imagem aquele momento.Depois, caminhou até o herói Dragão do Mar, eternizado em bronze, altivo e forte, mas leve, como a flutuar, passo em (des)equilíbrio, pernas de bailarino – disse. Mais uma vez colocou em alerta seu celular para registrar o momento, em « paisagem », e explicou: na França os jornais preferem a foto assim, na horizontal.
Mas à frente, Patativa do Assaré, reluzente, chamou-lhe a atenção. Atento, pertinho, ouviu sobre a poesia que encanta o mundo, a ave Patativa que canta em versos o Brasil, o Ceará, o mundo e os homens – tão frágeis,coitados-, os animais, a vaca estrela, o boi fubá, o pinto e o ovo.Dono da casa, Patativa convidou Arrabal e, juntos, abraçados, olharam a vida sob as muitas lentes dos seus óculos.Ora para ampliar, ora para embaçar, para dar novas cores àquele mundo ali… -não é mesmo isso que faz o poeta: nos mostra o mundo, suas dores,alegrias,desejos, sonhos, e nos apascenta, assim, a alma?
No Mucuripe, na beira mar, caminhando pelo calçadão, encontramos uma passeata colorida, alegre, cantante, aos pulos, que « distribuía » abraços. Com placas, camisetas e dizeres com imagens da « campanha » pelo abraço. Arrabal abraçou,beijou bochechas rosas das garotas, alçou placas « Pelo Abraço ». E mais uma vez quis eternizar em imagem a emoção…Foto!
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
Depois fomos no Restaurante « La Vilanny », pertinho da Via Expressa, na vila de pescadores ao redor do Morro Santa Terezinha, na Rua Olga Barroso. As simpáticas anfitriãs vieram à mesa, conversaram, apresentaram seus deleites gastronômicos. Então iniciamos O GRANDE CERIMONIAL. Arrabal aceitou as sugestões e deliciou-se com camarões e lagostas, ao alho e azeite… « La Vilanny » era, verdadeiramente, O JARDIM DAS DELÍCIAS.
Por uma semana convivemos com Fernando Arrabal em Fortaleza, entre teorias, debates acalorados, discussões intermináveis, rituais gastronômicos, passeios pela cidade… intercambiamos saberes, fazeres, nos alastramos pelo Teatro da Boca Rica, Casa Amarela, Centro Dragão do Mar, Teatro Universitário. Reunimos gerações diversas, estéticas múltiplas, assistimos a filmes raros de Arrabal,trocamos pensamentos e pequenas lembranças. Arquitetamos uma TORRE DE BABEL. Imprimimos em nossa memória uma teia de singelas paisagens e preciosos afetos…Evoé!
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
ENTIDADE PROPONENTE DO PROJETO GRITA-GRAPO/NAÇÃO CARIRI/TEATRO DA BOCA RICA
O Teatro da Boca Rica é grupo teatral, um Ponto de Cultura, uma Escola Livre, um Espaço Cultural. O GRITA foi criado em 1973 e liderado pelo teatrólogo José Carlos Matos (diretor de 1973-1982) até sua morte precoce. Oswald Barroso (diretor de 1982-2004) assumiu o grupo, agora sob novo nome, GRAPO. Em 1998 passou a ser chamado Teatro da Boca Rica, numa homenagem ao Mestre Pedro Boca Rica, parceiro do grupo. De 2004 até hoje Teatro da Boca Rica é dirigido por Rejane Reinaldo, atriz, diretora, gestora/produtora e pesquisadora.
José Carlos criou a CONFENATA-Confederação Nacional de Teatro Amador, e foi seu primeiro presidente. Também a FESTA – Federação Estadual de Teatro Amador. Imprimiu um novo olhar ao fazer artístico brasileiro, direto do Ceará. A arte e a luta pela democracia se misturavam naquele contexto.
A trajetória de 40 anos da reunião de artistas e intelectuais, que fizeram a história do Grupo Independente de Teatro Amador/ Nação Cariri/ Grupo de Arte Popular/Teatro da Boca Rica, é a saga de um projeto de construção artístico-cultural referenciado no diálogo entre a vanguarda e as tradições populares, no que elas têm de mais representativo do espírito mágico e criativo do ser humano. Movendo uma teia de articulações que junta num mesmo esforço, artistas tradicionais e modernos, ligando gerações e propostas singulares, a ação desenvolvida nessa trajetória engendrou uma produção artístico-cultural, experimental e de ponta, com preocupações estéticas e sociais, que por seu volume e sua qualidade marcou definitivamente o cenário da cultura no Ceará, com repercussões nacionais e internacionais. Concentrando-se nas artes cênicas, uma forma de múltiplas linguagens, espraiou sua atuação pelas demais linguagens do campo da arte e da cultura, promovendo o diálogo entre elas, sem abandonar, entretanto, sua referência básica, o universo mítico da cultura popular tradicional. Insistindo nessa via, ajudou a quebrar preconceitos e, mais que isso, a destacar o valor do gênio popular, como fonte inesgotável de saber e inventividade, para a construção de uma cultura planetária, que tenha como centro a renovação da vida. De
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
sua produção constam filmes, recitais de poesia, peças teatrais, textos dramáticos, revistas, livros, pesquisas estéticas e antropológicas, discos, shows musicais, dissertações e teses acadêmicas, exposições, seminários, colaborações e intercâmbios com grupos, artistas e intelectuais locais, nacionais e internacionais, como Flávio Sampaio, Anália Timbó (dança), Lino Vilaventura (figurinos), Carlos Newton Júnior (crítico teatral), Chico Dias, Dira Paes (atores), Antônio Nóbrega e Roseane Almeida (Brincante), Liduíno Pitombeira (músico), Roberto Machado (Penthesilea), Lina Prosa (Itália),Anna Barbera(Itália), Carlos Simioni (Lume), Elisa Toledo (Venezuela/MG), José Guedes, Descartes Gadelha, Ronaldo Cavalcante, Marcelo Santiago e Aderson Medeiros (cenários, cartazes, adereços, figurinos), Moncho Rodrigues (encenador), Ronaldo Lopes, Zezé Fonteles, Caio e Graco, Liduino Pitombeira (música), Adriano Espínola (Dramaturgia).
Partindo do teatro, num trabalho compartilhado, juntou em seu núcleo, intelectuais e artistas de diferentes linguagens, como Rosemberg Cariry e Firmino Holanda (cinema), José Carlos Matos, Flávio Sampaio, Oswald Barroso, Celso Almeida, Ricardo Guilherme, Ivonilson Borges, Joana Borges, Jô Abreu, Elza Ferreira, Paulo Ess, Edvar Costa, Olga Paiva,Lana Soraya, Aida Marsipe, Deugiolino Lucas, Neusa Gonçalves, Fernando Neri, Marquinhos Moura, Rejane Reinaldo, Teta Maia, Silvana Garcia, Myreika Falcão, Omar Rocha, Pedro Xavier, Chico Alves, Antonio Rodrigues, João Antonio Campos Pinto, Graça Freitas, Vanéssia Gomes, Karin Virgínia e Sâmia Bittencourt , e tantos outros. Artistas plásticos, escritores, músicos, com mestres da cultura popular tradicional, como Patativa do Assaré e Mestre Pedro Boca Rica, que lhe dá o nome atual8.
O grupo tem sede própria desde 1996, funcionando com núcleos permanentes de teatro, infantil, projetos, formação em artes e humanidades, música. Residências artísticas com convidados, através de projetos, garantem uma troca e intercâmbio entre fazeres e criações. Os processos criativos são imbricados ao processo formativo. Compreende- se que fazeres e saberes não são hierarquizados nem carregam hegemonias ou dicotomias em si. Por isso a cada espetáculo, livros são lançados, Cds com as musicas do espetáculo são criados. A realização de seminários e afins garante uma discussão permanente sobre os temas da arte e da cultura.
8 Texto de Oswald Barroso para o folder do Ponto de Cultura Escola Livre Teatro da Boca Rica.
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
Atualmente os artistas e gestores do Teatro da Boca Rica estão embrenhados na implantação do PROJETO AMAZONAS: TEATRO,MITO,CIENCIA; na realização do PROJETO ÓPERA POPULAR MOACIR e na montagem do espetáculo PENTHESILEA, A RAINHA DAS AMAZONAS, pesquisa e criação cênica sobre o mito feminino das mulheres guerreiras, a partir das obras do alemão Kleist (Alemanha), da dramaturga italiana Lina Prosa (Itália) e da pesquisadora, escritora e jornalista amazonense Regina Melo (AM).
O Teatro da Boca Rica é um Espaço Cultural, um Ponto de Cultura, uma Escola Livre, um grupo teatral. Tem realizado projetos que articulam a academia com a criação, o pensamento e o criar como processos interligados, interpenetrados, saberes e fazeres múltimplos.
ALGUNS PRÊMIOS, SELEÇÕES, PROJETOS,ESPETÁCULOS, INTERCÂMBIOS
2014 – COMENDA SOCORRO ABREU para mulheres que combateram a ditadura militar brasileira: Maria Rejane Reinaldo, Ruth Cavalcante,Tereza Cavalcanti, Noélia Pinheiro,Monica Martins, Argentina Menezes, entre outras. Partido Comunista do Brasil.
2013 – CAMARA MUNICIPAL DE FORTALEZA – COMENDA pelo 27 de Março, Dia Mundial do Teatro para Maria Rejane Reinaldo, Antonieta Noronha, Yuri Yamamoto, Augusto Bonequeiro, Thiago Arrais, entre outros. Vereador Evaldo Lima (Partido Comunista do Brasil).
2013-Premio DESTAQUES DO ANO-BALAIO. CATEGORIA: ESPECIAL, pelo projeto MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES, para Lana Soraya e Rejane Reinaldo. Solenidade no Sesc Emiliano Queiroz.15/10/13
2013-Governo do Ceara-Secult – FEC Seleção pública estadual – Projeto Memória Viva da Cultura e das Artes. CONVIDADOS: Fernando Arrabal(Espanha), Wilson Coelho(ES).
2013-Governo do Ceara-Secult – FEC Seleção pública estadual – Programa de Formação em Artes e Humanidades na Escola Livre Teatro da Boca Rica: Multiresidência em Artes Cênicas; Experimento Cênico
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
2013-Prefeitura Municipal de Fortaleza/Funcet / Projeto Programa de Formação em Artes e Humanidades na Escola Livre Teatro da Boca Rica: MULTIRESIDENCIAS
2012 – Prefeitura Municipal de Fortaleza/Funcet /Projeto ANIMA de Formação em artes c~enicas para jovens
2011 – Seleção pública nacional – Ministerio da Cultura e Governo do Estado do Ceara – Ponto de
Cultura Teatro da Boca Rica: Escola Livre de Gestão, Cultura e Artes, um espaço para Ações e Pensamentos múltiplos
2011- IV EDITAL MECENAS-Projeto Ponto de Cultura Teatro da Boca Rica: Escola Livre de Gestão, Cultura e Artes, um espaço para Ações e Pensamentos múltiplos Secretaria da Cultura do Ceara
2011-Projeto Circo com Breno Moroni no Ponto de Cultura Teatro da Boca Rica Fundo Estadual de Cultura-FEC.Seleção pública.Secretaria da Cultura do Estado
2010-Projeto Pentesileia Universidade Federal da Bahia. Doutorado em Artes Cênicas na UFBA para Maria Rejane Reinaldo
2010-Premio Intercambio Cultural/ Pesquisa de Pentesileia na Italia, França, Venezuela, Roraima, Amazonia – Ministério da Cultura/Funarte para Lana Soraya, Marcus Vinicius, Valeria Pinheiro
2010-Prêmio Cine Mais Cultura/ Associação Educativa Cultural Teatro da Boca Rica/Ponto de Cultura Reis Assentados. Ministério da Cultura/Prefeitura Municipal de Fortaleza
2010-Premio Bolsa Funarte de Artes Cenicas 2010 para Maria Rejane Reinaldo.Pesquisa do espetáculo Pentesileia.Ministério da Cultura
2009-Premio Edital de Incentivo as Artes para Lana Soraya com espetáculo O fabuloso catador de historias.Secult Ceará
2009-Premio Edital de Incentivo as Artes para Lana Soraya de Literatura para publicação do texto O fabuloso catador de historias.Secult Ceará
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
2008-Premio Alberto Nepomuceno de Musica para Orquestra para João Victor com a música “Cabaçal,Maracatu e baião”- Secult Ceará
2006 – Projeto Anima de apoio a espaços culturais para a Associação Educativa Cultural Teatro da Boca Rica- Funcet.Prefeitura de Fortaleza
2005- Prêmio Agente Cultura Viva com a implantação do Ponto de Cultura Reis Assentados Teatro da Boca Rica Ministério da Cultura e Ministério do Trabalho
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
PONTO DE CULTURA ESCOLA LIVRE TEATRO DA BOCA RICA
FICHA TÉCNICA
APOIO CULTURAL
Governo do Estado do Ceará/ Secretaria da Cultura – FEC Fundo Estadual de Cultura Proponente Associação Educativa Cultural Teatro da Boca Rica Realização Ponto de Cultura Escola Livre Teatro da Boca Rica Parcerias Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura do Ceará PONTO DE CULTURA/MINISTÉRIO DA CULTURA/CULTURA VIVA IV EDITAL MECENAS / ENDESA/COELCE Universidade Federal do Ceará-UFC Universidade Federal da Bahia-UFBA Universidade Federal da Amazônia-UFAM Universidade Estadual do Ceará-UECE Universidade de Campinas-UNICAMP Universidade de Colônia(Alemanha) Universidade de Ouro Preto-UFOP Université Lille 3(França) Université Paris Nanterre La Defense(França) Université Aix-Marseille Fondazione Pontedera Teatro em Pontedera(Italia) Progetto Amazzone(Italia) Associazione Arlenika Onlus(Italia) Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas – IGHA (AM) Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza/Vila das Artes GEEON – Grupo de Educação e Estudos Oncológicos, do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal de Ceará Camera di Commercio Italo-Brasiliana – Regione Nordest – Fortaleza,Ceará,Brasil Vice-Consulado Honorário da Itália-Fortaleza Instituto Cultura Italiana Fortaleza Sistema Italia – Fortaleza-Ceará-Brasile Instituto da Cidade Acal IFCE Assembléia Legislativa do Estado do Ceara/INESP SESC-CE
PROJETO MEMÓRIA VIVA DA CULTURA E DAS ARTES – ANO I – FERNANDO ARRABAL 80 ANOS
REGISTRO E MEMÓRIA
CLIPPING,PEÇAS DE DIVULGAÇÃO,RELEASES Banner
Cartaz Livro Folder Registro e Memória Audiovisual Convite online Redes Sociais Certificado