POEMA PARA FERNANDO ARRABAL (80)
de CARMEM LÚCIA FOSSARI (poeta catarinense, mestre Brasileira, fundadora do Teatro Novo, publicou Heresia, 2011,…
Uma borboleta voou desde as ferrugens
dos carros de teu cenográfico mundo
de tantos que o gestastes em teu sangue espanhol
do confronto, do teu exílio e retorno ao páis
que te deu três irmãos d.arte, naquilo que a familiaridade
nas identidades de quem rompe e reinventa
os traduzem,
por isto digo-os teus irmãos
aqueles que a linguagem, em igual
visceralidade tua,moeram as confortáveis
imagens e palavras e destruindo-as emergiram ao novo,
obrigando-nos redescobrir angulações do olhar e
do pensamento.
Dali, um salvador
onírico,
picasso, um pablito dos poblitos que choraram nele
quando pintou guernica, e tu
fernado, de madre filho de carmen
do pai que a ideologia te roubou a ti
dos afagos, dos beijos e carinhos
e tu que da palavra edificastes uma florestas de páginas impressas
ao drama aquarelastes o teu humor
de olhares de todos os peixes
nadando nas aquosas bocas, babilonicas
arquiteto da não arquitetura, o revoltoso sem armas
o capaz de embriagar-se a falar com o deus
em ejaculatórias de rios nascentes do oceano
arrabalesco de tuas imagens , multiplas de ti mesmo
voando sobre uma jogada de xadrez
cavalgando o touro da infancia que sempre volta
Depois que tomado de sangue e tempo,
te escorrem do peito as palavras com que nos colocas a coroa de espinhos
nesta cruz de vivermos em solidão do existirmos assim tão desprotegidos,
embora as armas e as guerras possam sob tua arte virarem um pic nic.
Arrabal de coração menino de afetos e afagos aos que te leem mais atentamente
provocas o pánico aos resistentes defensores
da ordem estabelecida hierárquica… Tu não a credulas
e nos abençoas ao milagre de
podermos por ti esquecermos as absolutas certezas
os absolutos sentimentos e nos permitirmos a dádiva da dúvida,
da inquietação.
Tu és o terceiro espanhol, forjado na espanha pós guerra civil
e todo o pó e lágrimas se uniram em argila
onde esculpes na solidão humana,a ferida aberta
por habirtamos aos tempos de uma torre de babel.
Canto para ti, porque acendes o amor , que lorca tão bem o cantou,
mas tu, o acendes em fogueira ,
que são muitas, crepitantes chamas
queimando nossas entranhas em fogo pánico
para que não nos esqueçamos, que na brevidade , não cabe nenhum poder,
sim desafiarmos , todos eles, anarquicamente.
Desde nosso mais íntimo forum patafísico, que o humor é a única ponte que atravessa o medo, o terror
e tatua ao desejo que a vida é uma flor que mastigamos
em viver, mas reservo para ti as pétalas rubras
que a emoção de ler-te as perfilam num colar da palavra
liberdade.