Pièce de Elisa Ohtake, qui mêle la danse, la performance et le théâtre.
Dans une pièce-performance provocatrice, des danseurs issus de la danse contemporaine brésilienne testent leurs limites et étudient la vitalité de manière radicale.
Dans Tira meu fôlego [Coupe-moi le souffle], une pièce de danse-théâtre qui sera créée le 31 janvier au Sesc Pompéia, je provoque cinq danseurs de poids qui ont tous à leur actif, à São Paulo, un travail très personnel : Cristian Duarte, Eduardo Fukushima, Raul Rachou, Rodrigo Andreolli et Sheila Ribeiro. Le travail a été développé à partir du questionnement suivant : qu’arrive-t-il lorsqu’un danseur contemporain, pour qui la danse est devenue une question de production de savoir bien plus que d’expression subjective, pour qui la compréhension féconde et bienvenue de la danse comme une pensée du corps est fondamentale, qu’arrive-t-il lorsque ce danseur contemporain se voit dans l’obligation de simplement « danser avec passion » ? Autrement dit, qu’arrive-t-il lorsque, soudain, il est obligé d’exprimer ses émotions les plus intimes avec la puissance maximale et la plus grande dignité possible ? Comment ces conceptions complètement différentes de la danse s’organisent-elles dans son corps ? Quelles dramaturgies du corps sont possibles ?
Je veux provoquer ces danseurs que j’admire tellement, les déstabiliser, presque les contraindre, les mettre dans une situation de vie ou de mort pour tirer d’eux quelque chose de nouveau. Dans Tira meu fôlego les danseurs dansent pour étudier la vitalité de manière radicale, dans la proximité de la douleur, de la mort, du désir et de la fête. À cette fin, ils se mettent dans une situation qui est par sa vitalité des plus extrêmes, peut-être la plus extrême de toutes, et dont on peut difficilement sortir : la passion. J’ai créé une situation limite, absurde, exhaustive, éhontée, que chacun résout à sa manière : chaque danseur a besoin de prouver, en dansant, qu’il est passionné ; en plus de danser ils se voient dans l’obligation de s’exposer verbalement pour rendre compte de la proposition de la pièce, et bien souvent d’agir d’une manière étrange pour eux-mêmes. C’est une lutte belle à voir, une lutte entre l’ironie et le faire-pour-de-vrai, entre notre aquoibonisme quotidien et la volonté totale. Les danseurs font l’expérience de cette démesure en eux-mêmes, quittent et retrouvent le ton, c’est un défi pour eux et pour moi d’entrer et de rester sur le terrain de l’hybris, de la démesure, de la passion vitale. J’ai tenu à être également parmi les interprètes, je danse avec eux, je ne pouvais pas sortir en catimini et les laisser dans ce brasier, je veux me brûler avec eux.
Et Tira meu fôlego tient à s’autoproblématiser : comment parler de la passion de manière radicale, quand le capitalisme nous capture justement par le culte des émotions totales, par l’intense exploitation des sensations sensationnelles, par le frisson, par la fraîcheur ? Comment étudier la passion, dans le corps, quand sur le marché l’incessante production d’excitation/émotion devient de plus en plus une condition d’être au monde, un modèle de comportement, un étalon d’action et de perception ? Comment étudier la vitalité de manière radicale, dans la proximité de la douleur, du risque, du désir et de la fête ? Nous allons insister et voir ce qui se passe. Même s’il nous faudra tout mélanger. Même s’il nous faudra hésiter, désespérés, entre la passion, au sens vital du terme, et la simple mise en spectacle des émotions.
Traduction du portugais (Brésil) par Antoine Chareyre
Tira meu fôlego
Peça de Elisa Ohtake, que envolve dança, performance e teatro.
Em uma peça performática e provocativa, bailarinos da dança contemporânea do Brasil testam seus limites e estudam a vitalidade radicalmente
Em TIRA MEU FÔLEGO, peça de dança teatro que estréia 31 de janeiro no Sesc Pompéia, eu provoco cinco bailarinos de peso, cada qual com trabalho muito autoral em São Paulo: Cristian Duarte, Eduardo Fukushima, Raul Rachou, Rodrigo Andreolli e Sheila Ribeiro. O trabalho se desenvolveu a partir do seguinte questionamento: o que acontece quando um bailarino contemporâneo, para quem a dança se tornou muito mais uma questão de produção de conhecimento do que de expressão subjetiva, para quem o potente e bem vindo entendimento de dança como pensamento do corpo é fundamental, o que acontece quando esse bailarino contemporâneo se vê obrigado a simplesmente ‘dançar apaixonadamente’? Ou seja, o que acontece quando, de repente, ele é obrigado a expressar suas emoções mais íntimas à máxima potência e com a maior dignidade possível? Como esses entendimentos de dança completamente distintos se organizam no seu corpo? Quais dramaturgias do corpo são possíveis?
Quero provocar esses bailarinos que admiro tanto, desestabilizá-los, quase constrangê-los, colocá-los em uma situação de vida ou morte para extrair algo de novo deles. Em TIRA MEU FÔLEGO os bailarinos dançam para estudar a vitalidade radicalmente, na vizinhança com a dor, a morte, a libido, a festa. Para tanto, eles se colocam em uma situação da mais drástica vitalidade, talvez a mais drástica de todas, e da qual dificilmente se pode sair: a paixão. Criei uma situação limite, absurda, exaustiva, cara de pau, que cada um resolve à sua maneira: cada bailarino precisa provar, dançando, que está apaixonado, além de dançar eles se vêem obrigados se expor verbalmente para dar conta da proposta da peça e muitas vezes a agir de maneira estranha pra eles mesmos. É uma luta bonita de ver, uma luta entre a ironia e o fazer pra valer, entre o “blasesismo” nosso de cada dia e a vontade total. Os bailarinos experimentam a desmedida neles mesmos, saem e entram do tom, é um desafio pra eles e pra mim entrar e permanecer no terreno da hibris, da desmedida, da paixão vital. Eu fiz questão de estar no elenco também, danço com eles, não podia sair de fininho e deixá-los na fogueira, quero me queimar junto com eles.
E TIRA MEU FÔLEGO faz questão de se auto problematizar: como discutir a paixão radicalmente se o capitalismo justamente captura pelo culto das emoções totais, pela exploração intensa das sensações sensacionais, pelo tremor, pelo frescor? Como estudar no corpo a paixão se a produção mercadológica incessante de excitação/emoção se torna cada vez mais condição de estar no mundo, padrão de comportamento, medida de ação e percepção? Como estudar a vitalidade radicalmente, na vizinhança com a dor, o risco, a libido, a festa? Nós vamos forçar a barra e ver o que acontece. Nem que tenhamos que misturar tudo. Nem que tenhamos que oscilar, desesperados, entre a paixão, no sentido vital da palavra, e a mera espetacularização das emoções.
Uma caminhada de volta… Estou aqui, flutuando em meus pensamentos, esperando o empuxo para retornar à terra. Pois me parece que a pós-modernidade em dança tende a matar a paixão visceral do mover-se e estar presente, para pensar, pensar e pensar. Gosto de tudo, dos vários modos de se fazer/estar, mas antes, gosto de me apaixonar.
Infelizmente moro distante… Natal/RN, assim não poderei estar presente, mas emano daqui o impulso apaixonado e necessário para se preder o fôlego.
Bjbj à todos e todas.